Os bioinsumos estão chegando nas propriedades de café da Região Vulcânica e fazem parte da estratégia de pequenos cafeicultores para buscar a sustentabilidade. Produtores dessa região entenderam que preservar as riquezas naturais, solo e água, é questão de sobrevivência, mas também começam a despertar para o potencial turístico, já que possuem cenário perfeito para essa nova fonte de renda nas propriedades. Preservar a biodiversidade e oferecer alimentos saudáveis passaram a ser os principais ativos das famílias de agricultores. Aos poucos, eles estão substituindo produtos químicos no controle de pragas e doenças.
Segundo o Diretor Executivo da Região Vulcânica, Ulisses Ferreira, o uso de bioinsumos nas propriedades está crescendo e há um esforço da associação para aumentar a presença dos produtos biológicos no manejo das lavouras. “A Associação está trabalhando no sentido de facilitar a chegada dos bioinsumos até os produtores”, diz.
A Região Vulcânica é formada por 12 municípios dos estados de São Paulo e Minas Gerais; representa 7.163 produtores de café, responsáveis pela produção de 1.592.986 sacas de 60 quilos.
Em Andradas, um dos 12 municípios dessa área delimitada pela cratera de um vulcão extinto há 80 milhões de anos, a Associação dos Cafeicultores do Bairro Gabirobal - Acafeg, vem orientando os produtores na transição dos convencionais pelos bioinsumos, há cerca de um ano. Apesar do pouco tempo, eles já representam 20% dos produtos utilizados nas lavouras de café, principalmente no controle de nematoide, ferrugem e broca. Todos os produtores com quem conversamos, afirmaram que a escolha se deu pensando na sustentabilidade, já que os produtos não agridem o meio ambiente e o ser humano. “O patrimônio maior que o produtor tem é seu solo. A gente tem que deixar para nossos filhos um solo saudável e produtivo”, diz o presidente da Acafeg, Sebastião Benevide.
A parceria com empresas auxilia os produtores na tomada de decisão
O Sítio Santa Luzia, localizado no pé da Serra do Bebedouro, zona rural de Andradas, é um dos associados da Acafeg e foi um dos primeiros a utilizar os bioinsumos para o controle de nematoide e broca do café. A produtora Tamires Ribeiro é a quarta geração da família, que sempre morou naquelas terras. Durante a pandemia, assumiu a produção de café, com o pai e já colocaram no mercado a marca Café da Tamires. Bióloga de formação, o conceito de sustentabilidade sempre esteve presente no seu trabalho e ela levou isso para o sítio. Com a melhora na renda, passou a investir em mudanças no manejo e adotar práticas como reflorestamento, proteção das nascentes e córregos, utilização de plantas de cobertura para proteção do solo e plantando braquiária nas linhas do café. A meta agora é reduzir cada vez mais a aplicação de produtos químicos. “Quanto mais der certo o biológico, mais a gente vai deixando os químicos de lado”, diz Tamires. O seu objetivo é oferecer para o consumidor um café ecológico, o mais próximo do orgânico, produzido em um ambiente sustentável. “Estamos buscando viver mais em harmonia entre produção e meio ambiente, por isso escolhemos os bioinsumos”. (Veja o vídeo da Tamires)
Tamires acompanha as soluções oferecidas no mercado e agora está apostando nos produtos da Biotrop, pelo diferencial que a empresa trouxe para os produtores. “A agrônoma deles, a Thaís, esteve aqui, coletou material para análise de nematoide. Estamos aguardando o resultado, para definir quais produtos vamos usar”, diz”.
A Biotrop é uma das maiores indústrias de bioinsumos do Brasil e o Agrobiota é um dos serviços criados pela empresa. Os técnicos vão a campo, coletam raízes e solo e levam para análise nos laboratórios da empresa.
"A ferramenta Agrobiota da Biotrop utiliza inteligência artificial e proporciona aos agricultores dados essenciais para o seu negócio. A análise revela detalhes sobre os microrganismos presentes no solo, entendendo como interagem e influenciam a saúde e a nutrição das plantas”, explica Samuel Galvão Elias, coordenador de bioinformática da Biotrop.
Devidamente interpretados, os dados são disponibilizados aos agricultores em uma plataforma específica da empresa, que inclui recomendações de manejo e das soluções biológicas mais adequadas. “Na prática, nossa ferramenta de IA é capaz de gerar uma interpretação altamente informativa e sintética, para tomada de decisão de maneira mais acurada e inteligente”, ressalta Elias.
A agrônoma Thaís Grassi Gericó, que esteve no sítio da Tamires, faz parte dos 300 profissionais espalhados pelo País, levando as soluções dos bioinsumos até os produtores. Thaís contou para a Folha Agrosul que a demanda veio da própria associação que estava em busca de soluções naturais para desenvolver uma cafeicultura mais regenerativa. Ela levou não só os produtos, mas também os serviços.
Desde então, está acompanhando cerca de 50 produtores, avaliando e mostrando os resultados do uso das tecnologias. No ano passado, quando iniciou, o foco foi o solo, com o controle dos nematoides. “Me coloquei à disposição para coletar as amostras de solo e raiz de cada propriedade. Durante as coletas, fui acompanhada dos produtores e fui mostrando algumas áreas muito afetadas. Até então, ninguém falava sobre nematoide, uma praga que afeta a produção”. Thaís está acompanhando também produtores de outras associações como a Aprod, de Divinolândia–MG e a Associação de Santa luzia, Espirito Santo do Pinhal–SP.
BIOTROP, a empresa que acreditou nos bioinsumos
Criada há 7 anos, por um ex-executivo de uma multinacional da área de químicos, em Vinhedo –SP, a Biotrop possui algumas das mais avançadas unidades de multiplicação industrial de bactérias do Brasil. Hoje, com uma base muito grande de portfólio, nas categorias de biocontrole, biofertilizantes, bioestimulantes e inoculantes, a Biotrop fechou o ano passado como uma das maiores do segmento no Brasil, 100% biológica.
A Biotrop nasceu em um cenário tímido para os bioinsumos e foi a primeira a encarar o desafio de competir com grandes empresas do agronegócio e oferecer inovações e soluções utilizando as tecnologias biológicas para substituir as soluções tradicionais.
A demanda por produtos biológicos e naturais vem do consumidor que quer um alimento saudável e do produtor que viu no bioinsumo a oportunidade de aumentar a rentabilidade e a relevância do negócio dele. “E esse é o grande ponto de virada”, diz Jonas Hipólito, cofundador e recém-empossado na presidência da Biotrop.
A empresa inaugurou em meados de 2024 dois Centros de Multiplicação de Microrganismos: em Curitiba (PR) e em Jaguariúna (SP). A nova unidade do Paraná produz bactérias gram-positivas e gram-negativas e tem capacidade para 36 milhões de litros/ano. Em São Paulo, são produzidos fungos em meio sólido. A planta tem capacidade para fermentação de 24 t por semana. Veja o vídeo
Com investimentos acima de R$ 100 milhões, as unidades utilizam as mais modernas tecnologias disponíveis, estando entre os novos centros de multiplicação de microrganismos mais modernos do mundo. Com capacidade de produção em grande escala, possibilita atender a demanda dos produtores, oferecendo a mesma eficiência e o mesmo custo por hectare, dos produtos convencionais.
Em dezembro de 2023, a Biotrop passou a fazer parte do grupo belga Biofirst, também biológico. A visão da Biotrop é,de nos próximos 10 anos, ser a melhor e a maior empresa de biológicos e naturais para o agronegócio nas Américas; enquanto o grupo Biofirst visa, em 2034, estar entre as 10 maiores indústrias do agronegócio no mundo, na proteção de cultivos.
Brasil já é referência em bioinsumos
“Estamos já vivendo uma consolidação importante dessa indústria”. Jonas cita vários fatores que colocam o Brasil na liderança desse segmento, como o protocolo de Nagoya, que torna o arcabouço regulatório do Brasil na questão da biodiversidade, muito claro e único, “vários países falam muito disso, mas não tem nada implementado”. Além disso, o País forma profissionais importantes para a produção, na área de fermentação, de entomologia, em biomolecular, controle de qualidade usando RNA, tem infraestrutura de indústria e tem o cliente, o produtor, que busca constante inovação. “O Brasil tem todas as condições, está na frente e, com a atuação da Biotrop, se consolida como exportador de tecnologia biológica”.
Para o novo presidente da Biotrop, o ambiente no Brasil, país com a maior diversidade biológica do planeta, detentora de 20% do total de espécies de fauna e flora já conhecidas, era propício para florescer, mas faltava “quebrar a inércia” para o setor realmente decolar. E foi o que a empresa fez. Veja o vídeo
- A Folha Agrosul visitou a Biotrop, durante o Road Show 2025, projeto da Texto Comunicação.
- A Folha Agrosul visitou propriedades em Andradas, a convite do Andradas Café Festival